A tecnologia tem ampliado cada vez mais as possibilidades de se realizar diferentes tarefas apenas por meio de toques no celular. Um exemplo são os aplicativos que possibilitam
fazer compras, pagar contas, pedir comida e até encontrar alguém para se relacionar. E os aplicativos de relacionamento vieram para revolucionar costumes:a interacção e olhares que aconteciam num
mesmo ambiente estão sendo substituídos por likes de fotos e perfis de pessoas que podem estar a quilómetros de distância.
Há vários aplicativos que promovem encontros, sendo alguns deles bem conhecidos. As intenções por parte de quem busca este tipo de aplicativo vão desde
a possibilidade de um relacionamento sério até o sexo casual.
Outros tempos, diriam uns.
Sem dúvida, a tecnologia modificou o nosso dia a dia e, claro, os relacionamentos e vínculos amorosos. O olho no olho tem sido substituído pelo olho na
tela. As relações têm sido mais virtuais do que presenciais, mesmo com as pessoas que estão fisicamente perto.
Basta observar na mesa de um bar, ou qualquer outro espaço físico onde há pessoas próximas, conhecidas ou não, cada uma mexendo no seu telemóvel.
A superficialidade das relações revela-se na dificuldade de comunicação entre as pessoas. Elas são experts em expressar o que pensam através
das redes sociais, mas presencialmente tem dificuldades em trocar ideias, de aprofundar uma conversa, o que interfere na construção da intimidade.
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, no seu livro Modernidade liquida, afirma que vivemos a era do desapego, do provisório, de incertezas e a busca incessante pelo
novo é carregada de angústia e ansiedade. O sujeito busca algo, no entanto não sabe exactamente o quê.
A fluidez dos relacionamentos, enfatizada por Bauman, faz parte das novas formas de vínculos. No caso dos aplicativos, o fácil acesso, a possibilidade de desconectar ou
eliminar a pessoa sem a necessidade de dar maiores satisfações, reforça a ideia da inconstância dos vínculos. Se alguém não me agrada, não há problema porque há
outros para escolher, como produtos em uma prateleira.
Assim, seja a possibilidade de um namoro ou simplesmente a experiência pela experiência, a busca pelo aplicativo inclui outras intenções que vão além
do que se apresenta e é preciso prestar atenção nelas. Não se trata de colocar o aplicativo como vilão, até porque há pessoas, que deram certos através do uso deste recurso
de encontro, mas sim reflectirmos sobre a forma como tem sido utilizado por alguns e que reforça mais ainda a fluidez dos vínculos da sociedade actual.
O assunto é extenso. Porém, é importante compreender que para que haja um vínculo amoroso com bases sólidas, é preciso tempo. Tempo para perceber
o outro, como também para perceber-se e reconhecer as próprias dificuldades e não fugir delas, projectando no outro a responsabilidade de suprir as próprias carências. Quando isto acontece,
o resultado é o desencontro.
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